terça-feira, 10 de julho de 2007

"A casa é uma porta de entrada para se pensar arquitetura."

Alessandro Castroviejo.

Apresentação...

Sou aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES e este blog é uma tarefa da disciplina “Estética e Arquitetura”. O tema da habitação e sua história sempre me interessou muito, desde o início do curso, ou antes... e abordá-lo nessa disciplina, orientada pela professora Clara, foi uma oportunidade de aprender um pouco mais sobre uma das principais questões tratadas pela arquitetura.

Ingrid Holz

O papel do Arquiteto

“A casa, por exemplo, é o meio de comunicação entre o homem, seu sonho e seu passado. Sua geometria não é feita de formas e dimensões físicas: é uma geometria de ecos da memória e da imaginação, ressoando nos cantos, nos móveis, no telhado, nos espelhos, nos retratos, no seu "bater de portas", no seu "vento encanado". Centro de primitividade e gerador de sonhos, a casa tem perdido seu lugar e seu significado simbólico. Já não a entendemos como a expansão do ser do habitante, mas como a errância de formas e volumes, tensões e profusões que o arquiteto sonha sobre a prancheta. Mas quem deve sonhar é quem habita e não quem projeta. Projetar uma casa é projetar o abrigo do sonhador, é fornecer a eles as portas e as janelas através dos quais ele penetra e habita - mais do que cômodos e espaços físicos - a sua história, as suas esperanças, a sua vida. É, talvez, chegada a hora de abandonar a noção de fazer casas no estilo moderno, ou "de fazenda", ou neocolonial, ou meditarranée, ou deste ou daquele arquiteto, ou o que quer que seja. Só existe um estilo: o habitus do morador e é este o que nós, arquitetos, devemos encontrar. Mais que espaço é preciso projetar o tempo e o devaneio do habitante e dar a ele a sua história de vida ou a que se pretende viver. E é essa história do "morador", o "historial do seu ser", como define Heidegger, que muitas vezes permanece sufocada diante dos estilos dos arquitetos e dos decoradores, diante das revistas especializadas ou diante do luxo, muitas vezes desconfortável, da casa do vizinho. Ao habitante é preciso encontrar-lhe a identidade, dar-lhe um lugar no mundo, uma "habitação" e uma presença na história. Eis o que significa ter nas mãos o diploma de arquitetura: fazer de nossa arte um pequeno poema através do qual eu devolvo a cada um a sua própria história e a história da cultura à qual pertence. Por essa ligação com o pragmático do morar e o poético do habitar, o arquiteto tem um papel eminente na produção artística e cultural contemporânea. Mais que conhecimentos técnicos e estéticos, ele necessita de um embasamento histórico, uma perspectiva temporal e humanística que as escolas de arquitetura brasileiras, vinculadas à tradição das academias de belas-artes ou dos institutos de ciências exatas, não costumam oferecer. Sem essa perspectiva humanística a arquitetura se converte em serviçal da moda e das modernidades efêmeras dos carros, das revistas importadas, dos celulares e da moda dos designers. Arquitetura não é design: é poema feito de matéria e luz ávidas de imortalidade e transcendência. Quanto perdem filósofos e arquitetos por lerem tão pouca poesia, diria Gaston Bachelard, autor de A poética do espaço, talvez o primeiro livro a ser visitado por quem pretenda diplomar-se no combate da arquitetura.”

Carlos Antônio Leite Brandão, em seu texto “A arquitetura e seu combate”.

“Construir, habitar, pensar”

Para Martin Heidegger, em seu texto “Construir, habitar, pensar”, habitar é o fim imposto a todo construir e somente sendo capazes de habitar é que podemos construir.

“Parece que só é possível habitar o que se constrói. Este, o construir, tem aquele, o habitar, como meta. Mas nem todas as construções são habitações. Uma ponte, um hangar, um estádio, uma usina elétrica são construções e não habitações; a estação ferroviária, a auto-estrada, a represa, o mercado são construções e não habitações. Essas várias construções estão, porém, no âmbito de nosso habitar, um âmbito que ultrapassa essas construções sem limitar-se a uma habitação. Na auto-estrada, o motorista de caminhão está em casa, embora ali não seja a sua residência; na tecelagem, a tecelã estáem casa, mesmo não sendo ali a sua habitação. Na usina elétrica, o engenheiro está em casa, mesmo não sendo ali a sua habitação.Essas construções oferecem ao homem um abrigo. Nelas, o homem de certo modo habita e não habita, se por habitar entende-se simplesmente possuir uma residência.” (HEIDEGGER)

“Não habitamos porque construímos. Ao contrário. Construímos e chegamos a construir à medida que habitamos, ou seja, à medida que somos como aqueles que habitam.” (HEIDEGGER)

Casa das Canoas - Oscar Niemeyer


"Minha preocupação foi projetar essa residência com inteira liberdade, adaptando-a aos desníveis do terreno, sem o modificar, fazendo-a em curvas, de forma a permitir que a vegetação nelas penetrasse, sem a separação ostensiva da linha reta". (Oscar Niemeyer)



"E criei para as salas de estar uma zona em sombra, para que a parte envidraçada evitasse cortinas e a casa ficasse transparente, como preferia". (Oscar Niemeyer)




A Casa das Canoas foi projetada por Niemeyer em 1951 para sua moradia e é considerada um dos mais significativos exemplares da arquitetura moderna brasileira.



De carro, chega-se pelas curvas da estrada das Canoas num ponto acima da casa. Em seguida uma trilha leva até ela, o carro foi eliminado rigorosamente do lugar. Na caminhada, a cobertura da casa se revela como uma lâmina colocada sobre colunas finas. Uma laje plana e sinuosa apoiada sobre delgados pilares metálicos, onde se encontram o estar e serviços. O pavimento inferior fica incrustado no perfil natural do terreno, quase imperceptível, nele se alojam dormitórios e sala íntima.

A piscina ao lado da Casa das Canoas ganha mais que um significado funcional, por causa da rocha que se estende até o interior da casa. O volume da rocha une solidamente a casa ao chão, mas Niemeyer também consegue ligar o exterior e o interior da casa através da rocha.
A casa não tem frente nem fundo: o movimento contínuo criou uma fachada de vidro com um ritmo fluente.



Todas as decisões de projeto desejam de algum modo fundir casa e paisagem, através das formas curvas e sinuosas, das transparências, da fachada que acompanha o perfil natural do terreno no pavimento dos dormitórios e da enorme pedra de granito trazida para dentro do espaço interior.

Referências:
-
www.niemeyer.org.br/canoas/canoas.htm
- DUBOIS, Marc. “Casa das Canoas. Procurando a sensibilidade de morar”. www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq003/arq003_03.asp
- GUERRA, Abílio; RIBEIRO, Alessandro Castroviejo. “Casas brasileiras do século XX”. www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq074/arq074_01.asp

Obs: Atualmente a Casa das Canoas está aberta ao público, oferecendo aos seus visitantes uma exposição permanente sobre Oscar Niemeyer que inclui mobiliário, maquetes e o Programa Multimídia Oscar Niemeyer, e um pequeno auditório destinado a cursos e seminários. (http://www.niemeyer.org.br/)

Casa da Cascata - Frank Lloyd Wright


A casa foi construída em meio a um bosque, sobre uma pequena queda d'água, utilizando-se dos elementos naturais ali presentes - pedras, vegetação e a própria água - como constituintes da composição arquitetônica.


Originalmente utilizada como residência de veraneio, a casa hoje é um museu.


Automação residencial e a casa do futuro


A expressão automação residencial, também conhecida como domótica, tem sido utilizada para denominar diversos recursos disponibilizados para controle de equipamentos na habitação. A integração entre diferentes sistemas permite mais conforto, comodidade e segurança nos lares. Uma central de automação funciona como o cérebro da casa, comandando todos os sistemas de forma integrada. Os sistemas mais usados são os de segurança, iluminação, áudio e vídeo. No Brasil, a automação residencial resume-se em resolver problemas de cunho meramente funcional, como abrir e fechar janelas e portas, controlar intensidade de luzes e utilizar sensores de presença para acionar dispositivos. Por exemplo, a porta se abre quando um aparelho de biometria reconhece a impressão digital de um morador da casa, automaticamente o som é acionado e o percurso até o quarto é iluminado. O botão “acordar” na cabeceira da cama vai abrir a persiana, encher a banheira, ligar a cafeteira, etc.

A casa do futuro não se tornará fria e impessoal por causa da automação, pelo contrário, poderá ter sensores que captarão o tom de voz e a temperatura das pessoas para configurar o ambiente de acordo com seu estado de espírito.

A automação proporciona aumento da qualidade de vida, economia de energia, conforto, segurança e maior acessibilidade a pessoas com necessidades especiais.

Referências:
www.eesc.usp.br/nomads/virus01/automacao/index.htm
Revista Casa Cláudia – Dezembro de 2006
Revista AU – Julho de 2006


Evolução das formas de morar: da Idade Média à atualidade

Na Idade Média a habitação e o local de trabalho se confundiam, convivendo não apenas pessoas com laços de parentesco, mas, subordinados ao Mestre artesão proprietário dos meios de produção, moravam sua família, seus empregados assalariados e seus aprendizes, todos sob o mesmo teto, às vezes num único cômodo.

Ao longo do século XVIII, a partir do processo de industrialização, o cenário da habitação foi sendo modificado gradativamente. A casa da sociedade industrial não abriga mais o trabalho, apenas pessoas ligadas umas às outras por estreitos laços de parentesco, consolidando a família nuclear como modelo familiar moderno.

Depois da Segunda Guerra Mundial, com a cultura norte-americana se tornando referência de sociedade moderna, a habitação se tornou bem de consumo. A partir de então a casa setorizada por funções específicas (social, íntima e de serviços) passou a ser modelo de moradia para a classe média. A sala, área de prestígio, situa-se na parte nobre da casa, geralmente a parte da frente. Banheiros, cozinhas e áreas de serviços ficaram relegados aos fundos. E os quartos, compondo a área íntima da casa, devem ficar longe dos olhares de estranhos. Já para a população pobre não havia cômodos setorizados nem privacidade, os espaços eram pequenos, abarrotados de gente e sem ventilação e iluminação naturais. Os que não tinham condições de morar próximo de seus trabalhos devido à especulação imobiliária, surgida depois de processos de renovações urbanas nos grandes centros, acabavam adensando favelas e periferias.

Mais recentemente têm ocorrido diversas modificações nas formas de habitar. A informatização veio substituir a mecanização. As pessoas não precisam mais morar nos pólos geradores de informação, as informações chegam até suas casas, onde quer que elas estejam. Os grupos domésticos têm sofrido transformações, a família nuclear tem dado cada vez mais espaço a novos tipos de relações domésticas, como famílias monoparentais, casais sem filhos, uniões livres, grupos sem laços de parentesco, indivíduos que vivem sós, e a própria família nuclear modificada. A própria setorização da casa sofreu alterações, a cozinha deixou os fundos para se tornar espaço privilegiado, integrada com a sala. O banheiro ganhou mais atenção, foi transformado em sala de banho, local de relaxamento, um spa privativo. Com cada vez menos área útil, a casa tem ganhado elementos flexíveis, divisórias internas móveis, portas de correr e mobílias dividindo e integrando espaços. O trabalho retorna ao espaço doméstico, agora superequipado com alta tecnologia e sistemas de comunicação à distância, modificando hábitos, relações e espaços. Cada cômodo possui televisão, dvd, som, telefone, computador, etc, diminuindo o tempo de convivência familiar.

O arquiteto deve estar atento a essas transformações para projetar as habitações da sociedade atual, que vêm sendo modificadas para atender às novas necessidades de seus moradores.

Referências:
- TRAMONTANO, Marcelo. Habitação, Hábitos e Habitantes: “Tendências contemporâneas metropolitanas”.
- PINA, Silvia A. M. G.; KOWALTOWSKI, Doris C. C. K. “Arquiteturas do Morar: comportamento e espaço concreto”.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Habitação na História: Roma

Verificavam-se dois modelos de residências em Roma: as insulae – edificações multifamiliares alugadas pela população mais pobre, e as domus – residências unifamiliares destinadas à população rica. As residências rurais eram chamadas villas, grandes propriedades cercadas de pomares, jardins e fontes, que mais tarde foram adaptadas às elites do Renascimento, ficando famosas as Villas Palladianas, do arquiteto Andrea Palladio.

As insulae eram destinadas a aluguel e bastante pequenas, com normalmente um quarto que chegava a abrigar famílias inteiras. Sua disposição se verificava em andares. Embora Roma tivesse rede de esgoto, as insulas não tinham casas de banho. A sua construção era muito frágil, feita de madeira e tijolo, o que fazia das insulas alvos fáceis para incêndios. Devido a este fator, entre outros, foi possível o grande incêndio durante o governo de Nero. Em Roma a proporção de insulas para domus era de quatro para um.

Modelo de Insulae


As domus ficavam geralmente nas partes mais altas da cidade, abastecidas pelos aquedutos. Normalmente possuíam um jardim interno, piscina, atrium e outras comodidades. Tinham quartos bastante pequenos e sem janelas com espaço apenas para uma cama, devido ao fato de não haver aquecimento e de a iluminação ser feita através de clarabóias que davam para os átrios.

Ruínas de uma Domus


Fonte: wikipedia - pt.wikipedia.org



Héstia: A deusa grega protetora do lar.

Na mitologia grega, Héstia é a deusa dos laços familiares, simbolizada pelo fogo da lareira. Filha de Crono e Réia, irmã de Hera, Zeus, Posídon, Hades e Deméter, é a deusa virgem da lareira e do lar, sendo dirigidas a ela preces para o bom funcionamento da casa. É a personificação da moradia estável, protetora das cidades, das famílias e das colônias.
Héstia, em grego "heuein" (passar pelo fogo, consumir) pertence a mesma família etimológica que Vesta, em latim, cuja fonte é o indo-europeu "wes" (queimar), é a personificação da lareira, venerada pelos gregos no centro do altar, da habitação, da cidade e também da lareira como fogo do centro da terra e do universo.
Era cultuada em todas as casas dos homens e nos templos de todos os deuses, pois nenhum lar, nenhum templo ficava santificado sem a sua presença.Quando dois jovens se uniam pelo casamento, a mãe da noiva acendia uma tocha em sua casa e a transportava diante do casal até sua nova casa, para que acendessem a primeira chama em seu lar, tornando-o, por este ato, sagrado. Da mesma forma, cada cidade-estado grega tinha uma lareira comum com um fogo sagrado cultivado no edifício principal, ao redor do qual se congregava o povo.

Fonte: wikipedia: pt.wikipedia.org e www.symbolon.com.br

Habitação na História: Grécia

Para os gregos, não havia a idéia de lote urbano: a casa ocupava todo o espaço possível e possuía uma saída direta para a rua. A casa grega era voltada para o interior, tudo acontecia ao redor de um pátio interno. O setor das casas voltado para a rua normalmente englobava os cômodos dominados pelo pai da família e pelos homens da casa. O Gineceu era o espaço da casa destinado excluvivamente às mulheres, o Ándron era o espaço masculino e havia um altar doméstico, destinado à veneração dos antepassados.
Fonte: wikipedia: pt.wikipedia.org

A habitação tinha um pátio – espaço ao ar livre dentro da casa, poucas janelas e uma só entrada, com o intuito de afastar as mulheres da família dos “forasteiros”. O pátio “reforçava o caráter centrípeto de toda a organização espacial da habitação”.
Fonte: ANDRADE, Marta Mega de. “A vida comum. Espaço, cotidiano e cidade na Atenas Clássica.” Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

Curiosidade: A palavra economia vem do grego "oikós" que significa "a arte de administrar a casa".
Fonte: LIRA, José tavares Correia de. Sobre o conceito de casa ou como ver o objeto por excelência do arquiteto sem sair de casa. São Paulo. Revista Caramelo, FAUUSP, N. 5. s. d.

Diferentes formas de morar: Japão

"Para os japoneses, o paradigma de casa não guarda relação com as noções de solidez e de estabilidade – física e simbólica – ocidentais, evidência de uma sensibilidade distinta que prima o nível de conforto espiritual que um espaço doméstico, por mais reduzido que seja, brinda aos seus inquilinos antes que a quantidade de lugar disponível para armazenar pertencentes."
Fonte: MASSAD, Fredy; YESTE, Alicia Guerrero. "Viver no Japão". www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp369.asp

A arquitetura pós-moderna japonesa é considerada bastante ousada, tanto no design arrojado como na interpretação de novas funções.
As casas japonesas integram tradições e modernidade, reservando espaço à cerimônia do chá e às parafernalhas tecnológicas da vida moderna.
Arquitetura tradicional japonesa

Arquitetura contemporânea japonesa: pouco espaço e muita tecnologia


Diferentes formas de morar: Favelas

Foto: Fábio Costa

"O significado da habitação vai certamente muito além de sua função de abrigo. Apesar de seu objetivo principal ser a de proteger o ser humano, os valores sociais e psicológicos a ela relacionados são obviamente bem maiores do que este conceito inicial. A moradia representa o homem no mundo e é através do seu endereço fixo que ele confirma seu lugar no espaço urbano e na hierarquia social. Os significados são interpretados pela sociedade através de uma semiótica complexa que contribui para a estratificação social da metrópole. Assim sendo, da mesma forma que as condições de vida de uma pessoa se refletem na qualidade da sua habitação, a relação da sua habitação com o resto da cidade reflete a própria relação social entre o indivíduo e sua sociedade." (Érico Costa)
Fonte: COSTA, Érico. "Favela: retrato da exclusão social". www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp215.asp



Não só diferentes culturas produzem diferentes formas de moradia, a pobreza e a exclusão social são responsáveis por um tipo de habitação muito comum nas grandes cidades: as favelas.

Diferentes formas de morar: África

As tendas Tuareg, no Noroeste da África, são compostas de fibras e peles de cabras e podem ser desmontadas e transportadas.

Os pastores semi-nômades da África do Sul fazem suas casas com esteiras de junco sustentadas por uma armação de cana.


Os Gurunsi, em Burkina Fasso, constroem suas habitações como vasilhas semi-enterradas na areia, com ornamentação feita pelas mulheres, não apenas com função artística, mas também destinadas à proteção climática obtida com o robustecimento de frisos.


A cultura Dogon deixou suas habitações incrustadas em escarpados para se proteger dos invasores. Suas ruínas ainda são visíveis.

As casas em forma de cápsula em Camarões são compostas de paredes autoportantes de barro com aproximadamente 3cm de espessura. Os motivos artísticos utilizados admitem variações para identificar as diferentes famílias tribais.




Um povoado assentado nas ruínas de uma antiga cidade amuralhada na montanha Mandura constrói suas casas com tetos tecidos com palmas.



Tenda Hassaniya no sudoeste de Marrocos.



Interior de tenda Fulani no Oeste da África.



Habitação feita de juncos no Senegal.

Fonte: JAHN, Gonzalo Vélez. "Barro, vento e sol. Raízes de uma arquitetura africana".

www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq057/arq057_00.asp

Junco, palha, barro... Estas construções lembram as origens da arquitetura na forma da Cabana Primitiva discutida anteriormente. Mas de primitivas não têm nada! É impressionante a arte que esses povos conseguem fazer com materiais tão simples!

Mais sobre a cabana primitiva...

Para Quatremère de Quincy, existiam três arquétipos construtivos: a tenda, a caverna e a cabana estruturada em madeira. A tenda é muito leve e artificiosa, enquanto a caverna é muito pesada para ser imitada. A estrutura de madeira, aperfeiçoada pelos gregos, é a única que pode ser imitada.

Para Blondel, as primeiras cabanas foram feitas de junco, galhos, e argila, para proteger os homens primitivos do mau tempo e de animais ferozes. Mas,
“Conforme as famílias cresciam, suas amorfas moradias tornaram-se maiores. Tão logo os homens sentiram as necessidades oriundas da sociedade, aprenderam a providenciar moradias de maior conforto e durabilidade. Nesse momento, também suas moradias, que até então se espalhavam pelos imensos desertos, foram agrupadas em aldeias, que logo se converteram em burgos e finalmente se transformaram em cidades. Assim que os homens congregaram-se nas cidades, tiveram de se defender dos ataques de seus vizinhos, contra os quais levantaram sólidas fortificações, construíram muros, escavaram fossos e erigiram torres. [...] Tal é a origem dos três tipos de arquitetura, a civil, a militar e a naval.”


A cabana primitiva de Blondel.


Para Chambers, primeiramente os homens se abrigaram em cavernas, troncos de árvores ou em buracos cavados no chão e logo trataram de buscar habitats mais confortáveis, baseando-se nas construções de animais para erguerem suas próprias moradias.

Cabana Primitiva de Chambers

A discussão sobre a cabana primitiva é na verdade uma discussão sobre a origem da arquitetura, que os modernos acreditam estar na natureza, e os antigos, na tradição greco-romana. Essa discussão ganhou força após o fim dos CIAM, quando os arquitetos passaram a buscar na arquitetura primitiva inspiração para uma nova arquitetura.

Le Corbusier disse em sua obra “Por uma Arquitetura” a respeito da cabana primitiva:
“Olhe para o desenho deste tipo de cabana num livro de arqueologia: aqui está a planta de uma casa, a planta de um templo. É exatamente a mesma atitude que você pode encontrar em uma casa pompeiana ou em um templo de luxor [...]. Não existe esta coisa chamada “homem primitivo”, existem apenas meios primitivos.”

Fonte: RYKWERK, Joseph. “A casa de Adão no Paraíso”.

A cabana de Oscar Niemeyer (figura da terceira postagem), muito parecida com a de Viollet, em concordância com o pensamento moderno, é derivada da natureza.

A cabana primitiva de Viollet-Le-Duc

Viollet-Le-Duc descreve a cabana primitiva na história que criou para leitores adolescentes, em que os personagens “Doxi” e “Epergos” viajam no tempo e contam o que viram:
“uma dúzia de seres de membros robustos, [...] amontoados sob uma árvore frondosa cujos galhos mais baixos tinham sido dobrados em direção ao solo e mantidos assim com torrões de barro. O vento sopra com força e dirige a chuva diretamente a esse refúgio. Algumas esteiras de junco, algumas peles de animais, mal protegem os membros desses seres [...]”

Então Epergos resolve ajudá-los a melhorar suas cabanas. Escolhe duas árvores, sobe numa delas, e:
“a enverga com o peso de seu corpo e puxando a copa da outra com a ajuda de um cajado, une une seus galhos e amarra com alguns juncos. Os seres que então se amontoam em torno dele estão impressionados. Mas Epergos não espera que eles permaneçam ociosos. Ele os faz entender que devem procurar outros arbustos ao redor. Usando paus e as próprias mãos, eles os arrancam q os levam para Epergos [...]”

Ele os ensina a trançar e amarrar os arbustos jovens em cabanas circulares, revestidas de barro e calçadas de terra batida.

Cabana primitiva de Viollet-Le-Duc
Fonte: RYKWERT, Joseph. "A casa de Adão no paraíso".

domingo, 8 de julho de 2007

Cabana Primitiva de Laugier
Fonte: www.vitruvius.com.br